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Lembro como se fosse ontem quando um dos meus professores de Ayurveda, Matheus Macêdo, disse que pouquíssima gente se dedicava ao conhecimento de dravyaguna devido à sua complexidade.

Isso me chamou a atenção porque, para mim, toda a base do conhecimento ayurvédico está no entendimento de dravyaguna. Isto é, no conhecimento das substâncias ou da matéria.

De nada adianta decorarmos as doenças de vata, pitta e kapha, ou as interações entre os doshas em nosso organismo, se não soubermos exatamente qual substância ou dravya utilizar para equilibrá-los. 

Até porque, os próprios doshas, assim como nossos corpos, são substâncias cuja essência reside nos panchamahabhutas, os cinco elementos da matéria.

Em outras palavras, em essência, somos todos dravyas. E, ao entendermos isso, podemos ter uma dimensão bem mais profunda sobre o conhecimento do Ayurveda. Mas que visão é essa?

É o que vamos ver neste artigo. Continua comigo?

O que é dravyaguna, afinal?

Dravyaguna é a área de conhecimento que se ocupa do estudo e compreensão das propriedades das substâncias vegetais, animais e minerais utilizadas como medicamentos no Ayurveda.

Fazendo um comparativo com o conhecimento moderno, podemos dizer que dravyaguna corresponde à farmacognosia, ou seja, o estudo dos princípios ativos dessas substâncias.

Também podemos dizer que dravyaguna se equipara ao herbalismo, isto é, o uso medicinal das plantas.

Como você deve imaginar, este não é um conhecimento novo. Evidências arqueológicas demonstram que o ser humano já fazia uso de plantas medicinais há pelo menos 2,4 milhões de anos.

Quando buscamos registros escritos, encontramos a evidência mais antiga do uso de plantas medicinais na laje de argila suméria de Nagpur, a qual data de aproximadamente 5000 anos. Nela, encontramos 250 espécies de plantas listadas e 12 receitas de preparação de medicamentos.

Na China, o livro mais antigo que trata do uso medicinal das plantas é o Pen T’Sao, com cerca de 4500 anos. Nele, encontramos 365 espécies de plantas registradas e seus usos.

No Egito, o papiro Ebers (1550 AEC) é o mais representativo quando falamos em plantas medicinais. Ele lista 700 espécies de plantas e cerca de 800 indicações de uso.

Na Índia, encontramos nos Vedas uma série de indicações terapêuticas utilizando-se variados tipos de plantas. Um conhecimento que se desenvolveu mais intensamente nas medicinas Ayurveda e Siddha aos longo dos últimos 3 mil anos.

Já do nosso lado do globo, temos na Medicina Kallawaya o maior exemplo de registro de plantas ao longo dos tempos. Os médicos oficiais dos incas compilaram pelo menos 900 plantas medicinais e seus usos, formando o que hoje conhecemos como a Farmacopéia Kallawaya — um documento tão utilizado nos dias de hoje quanto os próprios clássicos ayurvédicos.

Mas o que o conhecimento de dravyaguna tem de tão especial?

Dravyaguna: as propriedades da matéria

Quando nos dispomos a estudar dravyaguna de uma forma mais aprofundada, temos que ter em mente que existe uma substância que afeta uma outra substância. Por exemplo, um alimento que afeta nosso corpo.

Agora, pare e pense comigo. Se todas as substâncias do Universo são formadas por panchamahabhutas, o raciocínio lógico é que dravyaguna nada mais é do que o estudo da interação desses panchamahabhutas em diferentes manifestações — ou frequências vibratórias, como chamamos no misticismo.

Para deixar mais claro, vamos a um exemplo prático. Imagine que você está prestes a comer uma maçã. Essa maçã é formada por panchamahabhutas.

Uma vez que você tenha comido a maçã, seu organismo vai quebrá-la em pedaços cada vez menores, até que o que você conhecia como maçã se transforme em akasha (éter), vayu (ar), agni (fogo), jala (água) e prthvi (terra). Ou seja, em panchamahabhutas, os quais serão absorvidos pelo seu organismo de acordo com a necessidade dele.

Percebe que no final das contas tanto a maçã quanto o seu corpo têm a mesma constituição?

Essa percepção, que passa batida para boa parte das pessoas que estudam e praticam o Ayurveda, nos coloca em uma situação privilegiada de observação da realidade.

Observando a realidade pela ótica de dravyaguna

O que realmente me encanta em dravyaguna é olhar pela minha janela e saber que aquele pé de xaxim e eu somos a mesma coisa. Ou que os botões de rosa multicoloridos que existem no meu jardim também são semelhantes a mim.

O que nos diferencia em forma é apenas um arranjo diferente, como a união dos elétrons na constituição dos átomos e a junção dos átomos para a formação das moléculas.

E o que me espanta nesse conhecimento milenar é que, ao reconhecer isso, posso tratar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Posso conversar com essas plantas como os xamãs e as curandeiras e descobrir seus segredos através da observação e da experiência.

Mais do que isso, posso vislumbrar a unicidade dentro da multiplicidade e a multiplicidade dentro da unicidade. Ou seja, a divindade que constitui cada ser que habita este planeta — seja ele vegetal, animal ou mineral.

Desvendando o rasa (sabor), guna (propriedades), virya (potência), vipaka (sabor pós-digestivo) e prabhava (ação específica) de cada vegetal, animal ou mineral, tenho o prazer de conhecer aquelas características que lhes são únicas, como a personalidade, o caráter e o modo de ser de uma pessoa.

Sou apresentada a um mundo particular cheio de vida e de karma (ações), capaz de transformar os processos metabólicos que acontecem em nosso organismo para torná-lo saudável.

Experimento um pouquinho que seja a sensação de ser um pouco mais como a cúrcuma ou o alecrim e de perceber como o meu corpo reage ao contato do boldo ou da sálvia.

Posso afetar essas substâncias e me deixar afetar por elas. Também posso cuidá-las e deixar que elas cuidem de mim.

E no final das contas, tudo o que sobra é dravya, é matéria, seja eu, você, um grão de arroz ou um botão de rosa.

Essa é a verdadeira ciência de dravyaguna: um entendimento profundo sobre como afetamos e somos afetados por tudo ao nosso redor. E como podemos trabalhar em consonância com essas formas de manifestação para mantermos um ecossistema — interno e externo — saudável.

Obrigada por me ler até aqui e a gente se vê no próximo artigo.

Um abraço,

Eve.

Évelim Wroblewski

Évelim Wroblewski é terapeuta ayurveda especializada em ginecologia ayurveda (striroga) pelo Instituto Adhipati e Sankarakripa Arogya Nikethanam, terapeuta da ginecologia natural pela escola Curandeiras de Si, e possui Formação em Medicina e Herbolaria Tradicional Andina pelo Instituto de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia Indígena de Santiago em parceria com a Escola de Medicina Andina.

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