Lúpus é uma doença autoimune que afeta cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que cerca de 90% delas são mulheres. Essa condição crônica pode levar a dores articulares, fadiga extrema, queda de cabelo, problemas cognitivos e até deficiências físicas.
Além dos sintomas físicos, o lúpus afeta de forma significativa a qualidade de vida da mulher, impactando nos seus relacionamentos, na sua profissão e até mesmo na sua autoestima.
Dessa forma, é uma doença que pode acarretar em outros problemas de saúde, como ansiedade, depressão, insônia, isolamento social e solidão, entre outros.
A demora no diagnóstico do lúpus faz com que as pessoas acometidas por essa enfermidade enfrentem baterias de exames e uso continuado de medicamentos como anti-inflamatórios e corticóides, a fim de melhorar os sintomas.
Ainda assim, não há uma cura definitiva para essa condição. Diante dessa perspectiva, muitas pessoas buscam a Medicina Ayurveda para sair do ciclo de dores crônicas e voltar a ter uma vida mais equilibrada e saudável.
Neste artigo, vou te contar um pouco mais sobre a visão do Ayurveda acerca do lúpus e como promover um tratamento adequado neste caso.
O que é lúpus para o Ayurveda?
No Ayurveda, não temos uma doença que corresponda de forma integral ao que chamamos de lúpus na medicina moderna. Contudo, de acordo com os sinais e sintomas desse desequilíbrio, podemos enquadrá-lo em vatarakta, isto é, um desequilíbrio de vata dosha associado a um desequilíbrio do sangue.
Esse desequilíbrio é causado por alimentação e estilo de vida inadequados (ahara e vihara), que levam ao agravamento de vata dosha. Vata, por sua vez, desequilibra rakta dhatu, que acaba por obstruir o caminho natural de vata.
Esse bloqueio, que conhecemos como avarana, pode impactar outros dhatus, como: rasa (linfa), mamsa (músculo), medha (gordura) e asthi (ossos), além de tvak (pele).
Enquanto os gunas de rakta — que são semelhantes a pitta — causam inflamação, os gunas de vata levam à degeneração dos tecidos, gerando sintomas como dores articulares, febre, fraqueza, dormência nos membros, erupções na pele, suor excessivo, entre outros.
Esses sintomas se espalham pelo corpo, afetando pés, mãos, joelhos e demais articulações, além de alguns órgãos, comprometendo a saúde e qualidade de vida da pessoa à medida que o desequilíbrio se agrava.
O que causa vatarakta, afinal?
De acordo com os textos clássicos do Ayurveda, vatarakta pode se desenvolver pelo consumo excessivo de alimentos salgados, azedos, picantes, alcalinos, untuosos e quentes.
A alimentação irregular (sem horário definido), bem como alimentar-se antes de ter digerido a refeição anterior também são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de vatarakta ou lúpus.
Dormir durante o dia ou permanecer acordada durante a noite, não praticar atividades físicas e sentir raiva em excesso também podem contribuir para o quadro.
Além disso, excesso de alimentos secos, adstringentes e amargos, jejum prolongado ou alimentação insuficiente e supressão das necessidades fisiológicas estão na lista de fatores de risco para o desenvolvimento de vatarakta.
Em resumo, qualquer comportamento que leve ao agravamento de vata dosha e de rakta dhatu pode comprometer o equilíbrio de ambos e levar a essa condição. Sendo assim, podemos incluir na lista de fatores de risco questões como estresse, ansiedade, medo e traumas emocionais.
Como tratar lúpus de acordo com o Ayurveda?
Como você viu, existem inúmeros fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de lúpus. E além do agravamento de vata e rakta, podemos ter também o envolvimento de kapha e pitta dosha. Portanto, um bom tratamento começa com um bom diagnóstico.
Entender como a doença se desenvolveu, por quanto tempo o desequilíbrio está presente e quais sinais e sintomas estão se manifestando é fundamental para o desenvolvimento de um protocolo de tratamento adequado.
Além disso, é essencial ter em mente que os sinais e sintomas variam de pessoa para pessoa. Por isso, cada pessoa deve ser tratada em sua individualidade.
Mas o que acontece depois do diagnóstico?
Nidana parivarjana
O primeiro passo é identificar alimentos e hábitos que possam contribuir para o desequilíbrio e substituí-los por outros, mais saudáveis. Portanto, é fundamental avaliar a alimentação da paciente e sugerir substituições em relação aos rasas que possam estar em excesso.
Só com esta mudança já é possível observar melhoras nos sintomas, como as dores articulares, por exemplo. Também entram mudanças comportamentais, como a prática de atividades físicas, gerenciamento do estresse e autocuidado.
Shamana chikitsa
Num segundo momento, entramos com terapias de pacificação dos doshas, isto é, shamana chikitsa. Isso pode envolver desde dietas específicas até o uso de ervas medicinais e preparações ayurvédicas.
Algumas opções que podem ser interessantes para o tratamento de vatarakta são: manjishtadi kvata para pacificação de vata e rakta; kaishora guggulu (rasayana) e guduchi churna (balya).
Como o lúpus é uma doença crônica, seu manejo deve ser permanente para que não haja mais crises.
Shodhana chikitsa
O terceiro tipo de terapia que pode ser aplicado em um caso de lúpus é o panchakarma ou shodhana chikitsa. Isso porque consegue-se eliminar os doshas desequilibrados e fazer a manutenção da saúde física, mental e emocional com mais facilidade.
De forma resumida, o primeiro passo do panchakarma é fazer o dipana-pachana, ou seja, eliminar ama e melhorar o agni. Em seguida, faz-se o snehana (oleação).
Neste caso, o svedana (sudação) não é indicado, pois o calor pode agravar ainda mais o rakta. Portanto, cabe substituí-lo pelo udvartana, com pós medicados que visem a pacificação de rakta.
Feito o preparo, o próximo passo é aplicar o virechana e o basti. Aqui, o kshira basti com guduchi é bastante indicado por promover a pacificação de vata e rakta.
Após a expulsão dos doshas agravados, é necessário nutrir os tecidos e fazer o controle de vata dosha, traçando um acompanhamento regular para que a paciente não volte a ter crises.
Espero que este artigo tenha te ajudado e, caso você queira continuar se aprofundando no Ayurveda, te convido a assinar a minha newsletter.
Um forte abraço e a gente se fala no próximo artigo!
Évelim.