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Desde que o ser humano começou a caminhar sobre a Terra temos a presença de seres muito especiais neste planeta. Elas têm muitos nomes, como yatiri, qolliri, matrona, usuyiri, dai, comadrona, wachachik, parteira.

Conhecedoras dos segredos da Natureza, guardiãs da sabedoria das plantas, portais de vida e amor, desde o início dos tempos elas vêm perpetuando um conhecimento único: o partejar.

Reconhecidas pelas civilizações antigas como mulheres de extrema sabedoria, honradas e prestigiadas por seu saber único, elas passaram a ser perseguidas e destituídas de sua ocupação para dar lugar a uma cultura patriarcalista e dominadora, que submete os corpos das mulheres a processos antinaturais e nada acolhedores.

Mas a parteria ancestral resiste. Hoje vemos jovens mulheres retornando à sua essência de amorosidade e sororidade, aprendendo com as abuelas o ofício de cuidar do que é mais precioso em toda a existência: o dom de trazer outros seres a este mundo.

Parteiras tradicionais: pontes entre o mundo físico e espiritual

Enquanto a sociedade moderna vê o parto como um procedimento clínico, os povos originários interpretam esse momento como algo sagrado.

Da concepção até o parto, a mulher é preparada para este momento, recebendo cuidados especializados das parteiras tradicionais. Infusões de plantas, sobadas, banhos de ervas, rituais e orações fazem parte desses cuidados.

Também conhecidas como pachacomadres ou madrinhas da terra, as parteiras tradicionais criam laços de amor e amizade com as famílias, muitas vezes sendo consideradas segundas mães das crianças que trazem ao mundo.

Para exercer sua profissão, elas desenvolvem uma profunda conexão com Pachamama, que lhes nutre com a sabedoria das ervas, das plantas, dos ciclos da Natureza e da Lua para que possam oferecer seus dons a quem precisa.

Dessa forma, elas se tornam verdadeiros portais entre o mundo físico e o espiritual, auxiliando na travessia do espírito da criança do mundo invisível para o visível. Além disso, elas se tornam vitais para o ancoramento da energia vital da criança (ajayu) neste plano, assim como para o fortalecimento da energia da mãe.

A sabedoria ancestral das parteiras tradicionais

Detentoras de conhecimentos milenares transmitidos de mães para filhas, as parteiras tradicionais andinas dominam os princípios da saúde e da doença, buscando sempre o equilíbrio de duas forças antagônicas: o frio e o calor — se você percebeu qualquer semelhança com o virya na Medicina Ayurveda, saiba que não é mera coincidência.

Elas sabem que o calor é vital para um parto saudável, por isso, oferecem às parturientes infusões quentes durante todo o processo. Além disso, mantêm um ambiente aquecido, confortável e seguro para a mãe e a criança recém-nascida.

A fim de facilitar o parto, elas também fazem uso de ervas medicinais que podem promover relaxamento ou facilitar a dilatação, por exemplo. Também previnem sangramentos posteriores ao parto com infusões e decocções específicas, garantindo, assim, o bem-estar da mulher.

São as parteiras tradicionais que oferecem os primeiros cuidados à criança e orientam as mães quanto à continuidade deles. Elas também atuam como as primeiras pediatras, tratando doenças como icterícia e cólicas, por exemplo.

Além disso, elas atuam como verdadeiras ginecologistas e obstetras tradicionais, tratando desequilíbrios ginecológicos, reposicionando o feto para o parto normal e acompanhando o desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida.

A ritualística na parteria ancestral

A espiritualidade faz parte da cosmovisão andina e também está presente na parteria ancestral. Nesse sentido, além dos cuidados médicos, a parteira também providencia os cuidados espirituais para a chegada da criança e a proteção da mãe.

Um dos principais cuidados está relacionado ao preparo do ambiente onde a mãe dará à luz.

Para evitar a entrada do mal de aire — mal do ar, em tradução livre — ela realiza procedimentos e orações para blindar a porta da casa. Outros procedimentos comuns são a defumação da casa com ervas, o uso de objetos sagrados, velas e flores.

Na tradição maya, quando o parto é demorado, costuma-se cantar para chamar o bebê para este mundo. Um convite para que ele deixe o ventre quentinho e seguro da mãe e passe a fazer parte ativa da comunidade. Aqui abaixo deixo uma dessas canções para você conhecer.

O plantio da placenta e a medicina placentária

Dentro da cosmovisão andina, a placenta é a contraparte da criança. Um ser vivo que dá a sua vida para que outro nasça. Portanto, ela também merece cuidados e rituais próprios.

Um desses cuidados é o plantio da placenta. A família escolhe um lugar considerado sagrado para que a placenta seja enterrada, sempre acompanhada de oferendas e rezos.

Se o bebê é menina, a placenta é enterrada dentro de casa, geralmente embaixo do forno a lenha, para que se mantenha aquecida. Já se o bebê é menino, costuma-se enterrar a placenta fora de casa, para que este se torne guardião do território.

Além disso, o enterro da placenta tem o intento de que a criança mantenha o vínculo familiar e sempre saiba voltar às suas raízes, mesmo que esteja longe de casa.

Outra prática bastante comum na parteria ancestral é o uso da placenta como medicina. Isto é, a placenta é transformada em medicamento através da combinação com ervas específicas, como a calêndula.

Essas medicinas podem ser administradas como cápsulas, óleos medicados, tinturas e batidos, por exemplo, e podem ser usadas tanto para a criança quanto para os pais, a depender do tipo de medicamento feito.

Todas as vezes que entro em contato com esses saberes milenares sinto meu coração pleno de amor e espero que você também tenha sentido um quentinho aí.

E, se você gostou deste artigo, também te convido a conhecer as dais, parteiras tradicionais indianas.

Um abraço quentinho e a gente se vê no próximo artigo.

Eve

Évelim Wroblewski

Évelim Wroblewski é terapeuta ayurveda especializada em ginecologia ayurveda (striroga) pelo Instituto Adhipati e Sankarakripa Arogya Nikethanam, terapeuta da ginecologia natural pela escola Curandeiras de Si, e possui Formação em Medicina e Herbolaria Tradicional Andina pelo Instituto de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia Indígena de Santiago em parceria com a Escola de Medicina Andina.

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