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Desde março de 2017, o Ayurveda faz parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). No entanto, estamos muito longe de ver todo o potencial dessa medicina ancestral aplicado no Sistema Único de Saúde brasileiro.

De acordo com os últimos dados coletados e divulgados, de 2017 a 2019, dos 1.133.546 atendimentos realizados na modalidade PICS, o Ayurveda esteve presente em apenas 14 deles.

Em um país de proporções continentais como o Brasil, onde mais de 72 milhões de pessoas (34% da população) não têm acesso a serviços básicos de saúde, é fundamental desenvolvermos políticas públicas que facilitem o acesso a cuidados essenciais.

Dentro dessa perspectiva, as medicinais tradicionais, como o Ayurveda e a Medicina Tradicional Andina, cumprem um rol importantíssimo, já que atuam preventivamente e têm qualidade, eficácia e segurança comprovadas, como reconhece a Organização Mundial de Saúde – OMS.

Mas será que estamos alimentando uma utopia ou podemos realmente integrar os saberes tradicionais ao nosso sistema de saúde e transformar a realidade de milhões de pessoas?

É exatamente sobre isso que vamos conversar hoje. Preparada?

A estratégia da OMS para a implementação das medicinas tradicionais nos sistemas de saúde públicos do mundo

Pouca gente sabe, mas a Organização Mundial da Saúde – OMS lançou, em 2014, um guia estratégico para a implementação das Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas na década 2014-2023.

Essa estratégia previa dois grandes objetivos:

  1. Apoiar os Estados-Membro na implementação eficaz e aproveitamento de todo o potencial desses sistemas de medicina para o bem-estar das pessoas;
  2. Promover o uso seguro e eficaz das MTCI através da regulamentação de produtos, práticas e profissionais.

Esses dois objetivos deveriam ser alcançados por meio de três metas centrais:

  1. Construir o conhecimento de base e formular políticas nacionais de aplicação dos mesmos;
  2. Fortalecer a segurança, qualidade e eficácia dessas práticas através da regulamentação das mesmas;
  3. Promover a cobertura universal de saúde, integrando os serviços de MTCI aos sistemas nacionais de saúde.

A poucos meses de encerrarmos o ano de 2023, ainda temos muito a percorrer para conquistar esse sonho.

Segundo estudo do Banco Mundial em parceria com a OMS, metade da população mundial não tem acesso a serviços básicos em saúde. Além disso, aproximadamente 100 milhões de pessoas são empurradas para a pobreza extrema devido a gastos com questões de saúde.

No Brasil, mais de ⅓ da população sofre com esse problema, que tem impactos significativos em outras áreas, como educação e trabalho.

Sem saúde, educação e trabalho, grande parte da população fica limitada em seus direitos fundamentais, o que nos mostra o quão urgente se faz essa transformação.

Ayurveda no Brasil: oportunidades para todos e todas

O Ayurveda é um sistema de medicina milenar, amplamente documentado, e capaz de oferecer soluções em saúde de baixa, média e alta complexidade.

Além disso, tem como pilar central a prevenção às doenças, por meio de mudanças positivas na alimentação e no estilo de vida.

Seus tratamentos são, majoritariamente, baseados no uso de plantas medicinais, o que o torna um método terapêutico de baixo custo. Portanto, mais acessível à população de baixa renda.

Por se tratar de um sistema de medicina de precisão, o Ayurveda também é capaz de se adaptar às nuances de cada região, respeitando a individualidade de cada pessoa e aproveitando os recursos locais.

Desse modo, ele é capaz não só de promover a saúde e o bem-estar das pessoas de uma forma simples e natural, como também pode ser um importante aliado no desenvolvimento local, através de hortas comunitárias, jardins medicinais e agricultura familiar.

O Ayurveda se desenvolveu em âmbito comunitário, onde o vínculo entre médico e paciente era importante para a confiança no tratamento.

Nesse sentido, esse sistema de medicina milenar pode, ainda, aumentar a adesão aos tratamentos propostos, especialmente em casos de doenças crônicas, onde os pacientes precisam ter constância em seu autocuidado.

Como você pode ver, o Ayurveda apresenta inúmeros benefícios não só para fortalecer o Sistema Único de Saúde, como também para devolver a autonomia e autorresponsabilidade das pessoas com relação ao seu próprio bem-estar.

Mas o que falta para termos o Ayurveda no SUS de forma ampla e definitiva?

Ayurveda no SUS: o que nos impede de avançar rumo a essa integração?

O Ayurveda tem um modo próprio de compreender o funcionamento do corpo humano.

Essa visão única e integrada é expressa por unidades funcionais chamadas doshas, dhatus e malas.

Além disso, o conhecimento ayurvédico tradicional está expresso em compêndios chamados Samhitas e Nighantus, escritos originalmente em sânscrito.

Embora tenhamos traduções para outros idiomas, como o inglês, o acesso à fonte original desses conhecimentos se faz necessária para desenvolvermos um olhar mais crítico sobre essa ciência que se desenvolveu nos últimos 5 mil anos.

Nesse sentido, um primeiro obstáculo para que tenhamos o Ayurveda no SUS com qualidade, segurança e eficácia é promovermos o acesso a esse conhecimento.

Se você prestou atenção até aqui, esta era a meta número um da OMS para as medicinas tradicionais na década 2014-2023.

Num segundo momento, precisamos de regulamentação da profissão de terapeuta e/ou médico Ayurveda.

Atualmente, existem dezenas de cursos de formação de terapeutas, com grades curriculares muito distintas e carga horária que varia de um simples final de semana a cinco anos de formação.

Meta número dois da Organização Mundial de Saúde, lembra?

O terceiro ponto é a qualificação de profissionais para o atendimento à população. Como os cursos de formação ainda não são regulamentados pelo Ministério da Educação – MEC, não há formas de se avaliar a qualidade das formações disponíveis no mercado.

Além disso, precisamos derrubar o preconceito existente com relação às medicinas tradicionais, especialmente no ambiente acadêmico-científico.

Todo o conhecimento medicinal que temos hoje é derivado desses conhecimentos ancestrais.

Não há como negar o pioneirismo dos povos tradicionais de todo o mundo no tratamento das doenças. Afinal, desde que o mundo é mundo os problemas de saúde existem.

E foi através da observação da natureza e da profunda conexão com ela que esses povos desenvolveram medicinas únicas.

O que o mundo acadêmico-científico fez foi apropriar-se desses conhecimentos, patentear muitos deles e reclamar para si os feitos, marginalizando as medicinas tradicionais e destituindo-as de seu lugar de importância.

Quando essa visão estreita deixar de habitar o SUS, então teremos portas abertas para a real integração entre medicina tradicional e medicina moderna, não favorecendo os grandes laboratórios e corporações, mas sim a nossa população.

Mas enquanto esse grande movimento não acontece, o que nós, profissionais de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas, podemos fazer?

Ayurveda para todos: só depende de nós

Quando falamos de Ayurveda, gostamos de anunciar aos quatro ventos que se trata de um sistema de medicina de baixo custo. E realmente é.

Ao promovermos pequenos ajustes na alimentação de um paciente, já estamos fazendo um tratamento.

Com um pequeno punhado de ervas, que as pessoas podem ter em seus quintais, já temos toda uma farmácia natural.

Nosso conhecimento sobre o corpo humano e todos os processos que nele acontecem de forma integrada nos permite diagnosticar desequilíbrios sem a necessidade de tecnologias caras.

Com o conhecimento em nossas mentes, somos capazes de levar essa medicina até os lugares mais remotos do planeta Terra.

Mas enquanto criarmos barreiras de acesso financeiro, pautadas em valores inacessíveis para a maioria da população, o Ayurveda não será um sistema de saúde universal. Logo, o sonho de vermos o Ayurveda no SUS tampouco será factível.

Precisamos garantir o nosso sustento, isso é fato. Mas nosso papel social como promotores de saúde, como disseminadores desse conhecimento ancestral, precisa ir além do luxo e do status quo.

Enquanto o Ayurveda for privilégio das elites, ele não será visto pelos governos e tampouco pelas pessoas como algo possível de ser implementado e acessado.

E o trabalho de mostrar o potencial que o Ayurveda tem para transformar vidas começa com cada um de nós, em nossa prática diária.

Projetos comunitários, clínicas-escola, atendimentos pro bono, mutirões voluntários, consultas com valores acessíveis… alternativas não faltam. Só precisamos do mais importante: compromisso.

E você, o que tem feito para tornar o Ayurveda verdadeiramente acessível para as pessoas?

Évelim Wroblewski

Évelim Wroblewski é terapeuta ayurveda especializada em ginecologia ayurveda (striroga) pelo Instituto Adhipati e Sankarakripa Arogya Nikethanam, terapeuta da ginecologia natural pela escola Curandeiras de Si, e possui Formação em Medicina e Herbolaria Tradicional Andina pelo Instituto de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia Indígena de Santiago em parceria com a Escola de Medicina Andina.

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