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Alegrias e tristezas, amores e desamores, ganhos e perdas, nascimentos e mortes, altos e baixos…

Tudo isso é a vida em pleno movimento, o tear das Moiras, fiandeiras do destino, que nos mostra que nem tudo está em nossas mãos.

A nossa tarefa, diante desse ciclo infinito de possibilidades, é lidar com cada situação da melhor forma possível, aprender com cada experiência e assim evoluir em mente, corpo e espírito.

Mas o que acontece quando cada experiência da vida se torna um pretexto para um remedinho aqui e acolá? E quando perdemos a capacidade de discernir entre o certo e o errado, delegando essa responsabilidade a outras pessoas?

É o que veremos neste artigo. Continua comigo?

O que é medicalização da vida?

Medicalização da vida é o processo de transformar situações do nosso cotidiano em potenciais doenças, de modo que essas experiências se tornem pretextos para consultas médicas ou uso de medicamentos.

Alguns exemplos de medicalização da vida são os “tratamentos” para adolescência ou menopausa, a suplementação de vitaminas de forma “preventiva”, o uso de produtos anti-envelhecimento, os tratamentos para aumentar a performance sexual, e por aí vai.

Como você pode ver, são circunstâncias em que, via de regra, não precisamos de medicamentos. Mas que, ao longo do tempo, vêm sendo transformadas em situações clínicas para fomentar um gigantesco mercado que costumamos chamar de “saúde”.

Esse mercado, que tem megacorporações como Pfizer, EMS, Eurofarma e Medley, dentre muitas outras, fatura mais de 8,45 trilhões de dólares anualmente e investe mais em marketing do que em pesquisa e desenvolvimento.

Esse marketing massivo aposta em grandes campanhas de publicidade que promovem a medicalização da vida como a solução de todos os problemas, levando a impactos significativos em populações mais vulneráveis, como idosos e crianças, principalmente.

Está triste? Toma um antidepressivo. Está sem energia? Toma um suplemento. Tem energia de sobra? Toma ritalina. Tem insônia? Toma zolpidem.

Só para você ter uma ideia, segundo o Ministério da Saúde, de 2012 a 2016 houve um aumento de 87% na dispensação de medicamentos registrados no Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica (Hórus) e no sistema informatizado do Programa
Farmácia Popular do Brasil – Rede Própria.

Além disso, de acordo com o Comitê Nacional para Promoção do Uso Racional de Medicamentos, para a população, o medicamento é visto como um meio rápido de resolução de problemas, a fim de manter a produtividade para o sistema capitalista.

E assim vamos perdendo totalmente a nossa autonomia e discernimento sobre o que verdadeiramente precisa de um tratamento medicamentoso e aquilo que é reflexo da vida acontecendo, em todas as suas nuances.

Quais os riscos da medicalização da vida?

O principal risco do fenômeno da medicalização da vida é o uso indiscriminado de medicamentos e tratamentos de forma desnecessária, o que pode acarretar em problemas secundários, como desenvolvimento de doenças e até mesmo dependência química.

Também entram na lista de riscos da medicalização da vida os transtornos alimentares, disfunções sexuais, desequilíbrios hormonais, transtornos mentais e abusos dos mais variados tipos, dentre outros.

Além dos impactos físicos e mentais que a medicalização da vida pode ter, existem efeitos psicossociais, como a sensação de estar sempre doente, a recusa em lidar com os problemas que se apresentam no cotidiano e a transferência de responsabilidade para terceiros, por exemplo.

Como o Ayurveda pode contribuir para evitar a medicalização da vida?

O Ayurveda é um sistema de medicina que considera o ser humano de forma integral. Logo, estabelece que a saúde plena é um equilíbrio entre corpo, mente e espírito.

Nesse sentido, quando falamos em saúde espiritual no Ayurveda, entram temas como a convivência em comunidade, o relacionamento com outras pessoas e o meio ambiente. Ou seja, existe também um fator social importante para o estabelecimento da saúde de uma pessoa.

A saúde mental, por sua vez, é estabelecida pelo equilíbrio dos três doshas da mente: sattva, rajas e tamas.

Esse equilíbrio é conquistado por meio de três tratamentos principais: discernimento (dhi), coragem (dhairya) e autoconhecimento (atmadivijñana).

Dhi

Dhi pode ser entendido como inteligência ou sabedoria. Algumas pessoas também traduzem essa palavra como discernimento. Ou seja, é a sua capacidade de compreender o que é certo ou errado, bom ou ruim.

Essa habilidade permite que cada pessoa analise cada experiência e entenda seus efeitos em si mesma.

Por exemplo: se você come macarrão todos os dias e, logo após comê-lo, sente indigestão, uma atitude sábia seria deixar de comer macarrão, não buscar um remédio para aliviar a indigestão.

O remédio para indigestão é apenas um paliativo momentâneo, que não vai resolver o problema.

Dhairya

Dhairya é a coragem para tomar uma atitude diante daquilo que é bom ou ruim para você. Também podemos traduzir dhairya como resolução ou constância.

Em outras palavras, dhairya é a sua capacidade de enfrentar e superar os obstáculos da vida com paciência, tolerância e autocontrole.

No caso do prato de macarrão, é decidir não comer mais macarrão ou então diminuir a quantidade que você come para não ter indigestão.

Mas esse conceito pode ser aplicado a tudo, desde superar a morte de uma pessoa querida até lidar com emoções contraditórias que você vivencia no seu dia a dia.

Dhairya é compreender que, para sermos saudáveis, precisamos sair da nossa zona de conforto e não cair nas armadilhas do marketing e da publicidade acreditando que calar nossos corpos e mentes através de medicamentos é a melhor forma de lidar com nossos problemas.

Atmadivijñana

Por fim, temos atmadivijñana ou autoconhecimento. Mas é um sentido mais profundo de autoconhecimento do que estamos acostumados a ouvir por aí.

Atma é a centelha divina, o nosso Eu real, que algumas pessoas chamam de Alma. Vijñana é conhecimento. Logo, atmadivijñana é o conhecimento de quem você é em essência.

Quando desenvolvemos uma compreensão aprofundada de quem somos, a maioria dos nossos problemas parecem muito pequenos, insignificantes, até.

Isso porque deixamos de nos identificar com as situações e aprendemos a separar aquilo que realmente nos corresponde e aquilo que não faz sentido.

Por exemplo: em vez de encararmos o envelhecimento como algo ruim, que deve ser evitado através de medicamentos, cremes e tratamentos estéticos, aprendemos a desfrutar dessa fase da vida a partir do entendimento de que o corpo é transitório.

Com essa nova perspectiva, evitamos sofrimentos desnecessários e, claro, a medicalização da vida. Afinal, compreendemos que esses processos não são doenças, apenas experiências pelas quais passamos ao longo da nossa existência material.

Ao desenvolvermos essa autopercepção, deixamos de depender dos outros para nos dizer o que é bom ou ruim para as nossas vidas. E assim vamos construindo uma vida mais conectada com o nosso entorno, mais consciente e resiliente sobre o que nos cerca.

Dando um basta na medicalização da vida

Além de dhi, dhairya e atmadivijñana, o Ayurveda nos ensina que precisamos buscar a raíz dos nossos desequilíbrios para saná-los de uma vez por todas.

Em outras palavras, o objetivo do Ayurveda é sempre eliminar a causa do sofrimento, por mais que este processo seja demorado. Afinal, somente desta forma você voltará a ter uma saúde equilibrada.

Este é o verdadeiro caminho para dar um basta na medicalização da vida: compreender seus processos físicos, mentais, emocionais, espirituais, sociais, e aprender a lidar com eles com discernimento, coragem e autoconsciência.

Espero que este artigo tenha te ajudado a refletir sobre a medicalização da vida e a importância de investir no autoconhecimento para não cair em armadilhas do mercado que só nos enredam mais e mais, tirando a autonomia sobre a nossa saúde.

Se você quiser continuar se aprofundando no assunto, te convido a ler também o artigo Ayurveda no SUS: um sonho possível?

Um abraço e a gente se fala no próximo artigo.

Eve.

Évelim Wroblewski

Évelim Wroblewski é terapeuta ayurveda especializada em ginecologia ayurveda (striroga) pelo Instituto Adhipati e Sankarakripa Arogya Nikethanam, terapeuta da ginecologia natural pela escola Curandeiras de Si, e possui Formação em Medicina e Herbolaria Tradicional Andina pelo Instituto de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia Indígena de Santiago em parceria com a Escola de Medicina Andina.

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